Andei perdendo algumas noites em
alguns anos. E alguns anos em algumas noites. Estou me referindo a um recorte
de uma década. Durante esse tempo, fiquei submisso a uma sentença terrível que
Carlos Drummond de Andrade já havia alertado: “a literatura estragou tuas
melhores horas de amor”. O preço disso é muito mais caro do que se imagina.
Reuni esse estrago numa obra chamada
Arremessos de um dado viciado. Um livro que surgiu para expor limitações:
vertê-las em caminhos, não em obstáculos. Lá aconteceu uma reviravolta nas
minhas prioridades, o que me fez pensar muito no meu lugar na minha própria
história. O poemário fez parecer tudo que eu tinha escrito antes, mero esboço.
Prefiro pensar que tudo é
eternamente rascunho, é a minha forma de seguir.
Entretanto não seria justo comigo
(nem poderia) abandonar o que fui, sabendo que meu passado faz parte do que
sou. E é por isso que passei a me dedicar a uma antologia que sanasse minha
vontade de encerrar um ciclo. Surge a obra Sumo de Ranço:
A intensão é que ela abrangesse
tudo, mas logo percebi: não é muita coisa. É quase nada. É o nada. Mas é o nada
que não pude manter preso. Entre um jogo de espelhos e contradições, é um nada
que não pode deixar de existir. “Fazer o que seja é inútil./ Não fazer nada é
inútil./ Mas entre fazer e não fazer/ mais vale o inútil do fazer” (João Cabral
de Melo Neto).
O Sumo de Ranço é um livro póstumo
para o Sábados de Caju. Continuarei
apenas com as atividades no Castanha Mecânica e na curadoria do Cronisias.
Também encerro minhas colaborações no Poetas de Marte e no Tribuna Escrita.
Interromper as atividades por aqui não significa que eu esteja em hiato com o
trabalho poético. É apenas uma forma de continuar.
Agradeço a todos que por aqui
passaram, permaneceram e também os que esqueceram. Foi sempre muito bom ter companhias
por aqui. Nos vemos por aí.
Grande abraço,
Fred Caju